segunda-feira, 15 de junho de 2009

A ideia não morreu...

Cá estou eu. Um ano e alguns meses depois da última postagem. Depois de todo este tempo, o sonho não morreu. Foi adormecendo, aos poucos, até que hibernou. Encostado aos dias que correram uns mais depressa do que outros, mas todos no sentido de hoje. Foi adiado, tal como este blog, até ao dia certo. E esse dia chegou.

Durante este período, as ideias foram amadurecendo. Fui-me preparando mentalmente para esta aventura. Até há cerca de um mês atrás. Nessa altura, de repente, compreendi que era a altura certa para voltar a concentrar todos os esforços neste projecto.

De então para cá, tenho andado a pesquisar com unhas e dentes, a examinar exaustivamente cada palmo do percurso e todas as informações que possam ser relevantes para me tornar mais capaz de levar a cabo esta viagem e para a levar a cabo da maneira que a quero fazer... o que acaba por ser muito mais importante. Tenho navegado por entre estantes da Biblioteca Municipal de Sintra, ao mesmo tempo que vou folheando a Internet. Depois troco e volto ao mesmo.

Mas chega disto. Vamos a informações concretas.

Em que ponto estou?

Percurso? - Ironicamente, muito ironicamente até, mudei radicalmente de opinião desde aquela entrada em que disse que o caminho ideal era a "direito", ligando o ponto Sul ao ponto Norte. Ironicamente, muito ironicamente até, vou mesmo ligar o país o mais a direito possível. Vou fazê-lo através de um corredor imaginário de cerca de 5km para cada lado. Em primeiro lugar, porque me dá uma margem de manobra confortável para me deslocar até algumas localidades que, de outro modo, ficariam inacessíveis. Em segundo lugar, porque o "caminho ideal" passa por Espanha e, para não sair de território português, sou "obrigado" a afastar-me essa distância do "caminho ideal". Junto assim o útil ao agradável, como se costuma dizer. No entanto, agora que tenho todo o trajecto previsto com o auxílio do Google Earth e dos mapas do Instituto Geográfico Português (que amavelmente mos cedeu por um preço simbólico, quando lhe contei do meu projecto), posso dizer que na esmagadora maioria da minha viagem estarei a menos de 1,5 km da linha imaginária que liga os pontos Sul e Norte de Portugal Continental.

Locais a visitar? - Depois de traçar o percurso ideal nos mapas e no Google, fui olhar mais de perto para tudo o que se atravessa no meu caminho ascendente. E fiquei estupefacto. Nunca pensei que pudesse "tropeçar" em tantas coisas interessantes e entusiasmantes. Fiquei de água na boca. Cada rio, cada regato, cada serra, cada cidade, cada vila, cada aldeia, cada lugar, por mais pequeno que seja, tem uma história para contar, uma curiosidade para me espantar. O meu "trabalho" tem sido descobrir esses pequenos segredos que se escondem por trás de nomes em mapas de papel ou no écran. É um trabalho agri-doce. Se por um lado fico feliz, como uma criança com um brinquedo novo, sempre que consigo entrever a ponta desse cantinho onde se esconde a magia de cada "nome", por outro lado fico triste e angustiado por saber que o meu trabalho de pesquisa estará sempre incompleto. Por mais pormenores que descubra, haverá sempre uma imensidão de histórias por contar. Até agora, posso dizer que foi o ensinamento mais importante que tirei de toda esta experiência, ainda verdadeiramente por começar, mas há muito começada na minha mente. É agora minha convicção que, qualquer que seja a linha que se trace ao longo do maravilhoso país que é o nosso, ela atravessará rios, vales, montanhas e localidades que merecem uma visita. Que merecem que sejam lembradas e que não se percam por entre os cabeçalhos dos jornais e as notícias bombásticas dos jornais da noite. Até porque todas elas estarão cheias do povo português, do nascido e do criado. Mesmo antes de partir, entrevejo um país imenso cheio de pessoas anónimas, com as suas qualidades e defeitos. E nada me apetece mais do que imergir-me todo, de cabeça, no meio dele.

Plano? - Quase tudo tratado. Cheguei à conclusão que é impossível tratar de tudo com um grau de certeza confortável. Por isso, contento-me em dizer que está quase tudo tratado.

Partida? - Dia 17 de Junho de 2009. Do Cabo de Santa Maria, em Faro. Que, a propósito, é mesmo "um ponto na curva da praia na Ilha da Barreta", como se pode ler aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_de_Santa_Maria . Afinal, tudo coincide. Eu é que andava confundido, com o Farol de Santa Maria a intrometer-se nas minhas "divagações".


Contratempos? - Tem havido alguns. De pouca monta. O tempo será um problema, visto que, por compromissos inadiáveis, disponho de pouco tempo para levar a cabo esta aventura. Mas confio que conseguirei levar tudo a cabo, na data prevista. Mas posso dizer que o ponto em que me senti mais inseguro sobre tudo isto ocorreu há cerca de 4/5 noites atrás. Enquanto analisava centímetro a centímetro a carta da região de Santa Comba Dão, apercebei-me de um velha ponte de comboio, agora desactivada, que passava muito próximo do meu caminho ideal. Se fosse transitável a pé, poupar-me-ia um pequeno desvio por Santa Comba Dão. Ao pesquisar no Google a dita ponte, fui ter a um site que me deixou de boca aberta. Aparentemente, desde Fevereiro de 2008 que um ex-jornalista do Expresso anda a viajar por Portugal de Sul a Norte... Assim mesmo, sem que eu tenha tido conhecimento de nada, alguém anda a efectuar uma aventura conceptualmente muito parecida à minha. Muito parecida porque, segundo me apercebi, o objectivo desse caminhante é percorrer o País, num sentido lato de Sul para Norte, enquanto que o meu é ligá-lo, num sentido estrito, entre dois pontos geograficamente distintos, o Sul e o Norte. Existem outras diferenças, mas o tempo será uma das mais importantes... pelo que consegui entender, este companheiro viajante ainda não terminou a sua viagem (16 meses depois). Podemos dizer que são "viagens" gémeas, ou complementares, se assim quiserem. Mas porque chamo eu a esta descoberta um contratempo? Pode parecer estranho, mas quando tive esta ideia, nos finais de 2007, um dos pontos que mais me seduziu foi a novidade que ela trazia implícita, a sensação de estar a "caminhar por terras nunca dantes caminhadas"... e
nesses segundos em que os meus olhos se aperceberam que estavam a ver um blog (de nome tão parecido ao conceito da minha viagem), com alguém (que não eu)a fazer uma viagem tão similar à minha (antes de mim)... fiquei triste, como se tivesse sido atraiçoado pelo destino. Uma coisa me animou, no entanto. O facto de ver que o blog (e, pelo que li numa entrada, também a ideia) surgiu depois do meu blog e da minha ideia. De um ponto de vista egoísta, senti-me mais feliz... e "pelo menos assim ninguém poderá pensar que estou a copiar a ideia de outra pessoa". Algo que, depois de perceber as diferenças entre os dois projectos, tirei da ideia. As ideias parecem iguais, mas são efectivamente distintas. Assim que me apercebi de que a minha "originalidade" não foi posta em causa, posso "ir para além da Taprobana" com um brilho no olhar.


E pronto, por hoje já chega.

Até um dia destes!

1 comentários:

Mário Monteiro disse...

A felicidade é feita destas coisas, e muitas vezes com um bom par de botas, conseguimos encontrar a felicidade e a saúde que tanto desejamos. Força. Sou natural de Cevide o ponto mais a norte do pais, quando iniciar a sua caminhada terei todo o gosto em lhe descrever o local, o sitio onde cantam os galos de tres provincias, onde está o caminho de santiago e onde nuestros hermanos quase falam a mesma lingua. Abç.